Wednesday, February 15, 2012

Carta às Esquerdas, por Boaventura de Sousa Santos


Terceira Carta às Esquerdas

As novas mobilizações e militâncias políticas por causas historicamente pertencentes às esquerdas estão sendo feitas sem qualquer referência a elas (salvo talvez à tradição anarquista) e muitas vezes em oposição a elas. Isto não pode deixar de suscitar uma profunda reflexão. Essa reflexão está sendo feita? Tenho razões para crer que não

Boaventura de Sousa Santos
Quando estão no poder, as esquerdas não têm tempo para refletir
sobre as transformações que ocorrem nas sociedades e quando o fazem é
sempre por reação a qualquer acontecimento que perturbe o exercício do
poder. A resposta é sempre defensiva. Quando não estão no poder, dividem-se internamente para definir quem vai ser o líder nas próximas eleições, e as reflexões e análises ficam vinculadas a esse objetivo.

Esta indisponibilidade para reflexão, se foi sempre perniciosa, é agora suicida. Por duas razões. A direita tem à sua disposição todos os intelectuais orgânicos do capital financeiro, das associações empresariais, das instituições multilaterais, dos think tanks, dos lobbistas, os quais lhe fornecem diariamente dados e interpretações que não são sempre faltos de rigor e sempre interpretam a realidade de modo a levar a água ao seu moinho. Pelo contrário, as esquerdas estão desprovidas de instrumentos de reflexão abertos aos não militantes e, internamente, a reflexão segue a linha estéril das facções.

Circula hoje no mundo uma imensidão de informações e análises que
poderiam ter uma importância decisiva para repensar e refundar as esquerdas depois do duplo colapso da social-democracia e do socialismo real. O desequílibrio entre as esquerdas e a direita no que respeita ao conhecimento estratégico do mundo é hoje maior que nunca.

A segunda razão é que as novas mobilizações e militâncias políticas por causas historicamente pertencentes às esquerdas estão sendo feitas sem qualquer referência a elas (salvo talvez à tradição anarquista) e muitas vezes em oposição a elas. Isto não pode deixar de suscitar uma profunda reflexão. Essa reflexão está sendo feita? Tenho razões para crer que não e a prova está nas tentativas de cooptar, ensinar, minimizar, ignorar a nova militância.

Proponho algumas linhas de reflexão. A primeira diz respeito à polarização social que está a emergir das enormes desigualdades sociais. Vivemos um tempo que tem algumas semelhanças com o das revoluções democráticas que avassalaram a Europa em 1848. A polarização social era enorme porque o operariado (então uma classe jovem) dependia do trabalho para sobreviver mas (ao contrário dos pais e avós) o trabalho não dependia dele, dependia de quem o dava ou retirava a seu belprazer, o patrão; se trabalhasse, os salários eram tão baixos e a jornada tão longa que a saúde perigava e a família vivia sempre à beira da fome; se fosse despedido, não tinha qualquer suporte exceto o de alguma economia solidária ou do recurso ao crime. Não admira que, nessas revoluções, as duas bandeiras de luta tenham sido o direito ao trabalho e o direito a uma jornada de trabalho mais curta. 150 anos depois, a situação não é totalmente a mesma mas as bandeiras continuam a ser atuais.

E talvez o sejam hoje mais do que o eram há 30 anos. As revoluções foram
sangrentas e falharam, mas os próprios governos conservadores que se
seguiram tiveram de fazer concessões para que a questão social não
descambasse em catástrofe. A que distância estamos nós da catástrofe? Por enquanto, a mobilização contra a escandalosa desigualdade social
(semelhante à de 1848) é pacífica e tem um forte pendor moralista denunciador.

Não mete medo ao sistema financeiro-democrático. Quem pode garantir que assim continue? A direita está preparada para a resposta repressiva a qualquer alteração que se torne ameaçadora. Quais são os planos das esquerdas? Vão voltar a dividir-se como no passado, umas tomando a posição da repressão e outras, a da luta contra a repressão?

A segunda linha de reflexão tem igualmente muito a ver com as revoluções de 1848 e consiste em como voltar a conectar a democracia com as aspirações e as decisões dos cidadãos. Das palavras de ordem de 1848, sobressaíam liberalismo e democracia. Liberalismo significava governo
republicano, separação ente estado e religião, liberdade de imprensa;
democracia significava sufrágio “universal” para os homens. Neste domínio,
muito se avançou nos últimos 150 anos. No entanto, as conquistas têm vindo a ser postas em causa nos últimos 30 anos e nos últimos tempos a
democracia mais parece uma casa fechada ocupada por um grupo de
extraterrestres que decide democraticamente pelos seus interesses e
ditatorialmente pelos interesses das grandes maiorias. Um regime misto,
uma democradura.

O movimento dos indignados e do occupy recusam a expropriação da democracia e optam por tomar decisões por consenso nas sua assembleias. São loucos ou são um sinal das exigências que vêm aí? As
esquerdas já terão pensado que se não se sentirem confortáveis com formas de democracia de alta intensidade (no interior dos partidos e na república) esse será o sinal de que devem retirar-se ou refundar-se?

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).



Tercera carta a la izquierda
Las nuevas movilizaciones y el activismo político de las causas que pertenecen históricamente a la izquierda se están realizando sin ninguna referencia a ellos (excepto, quizás, la tradición anarquista) y, a menudo en oposición a ellos. Esto no puede dejar de suscitar una reflexión profunda. Esta reflexión se está haciendo?Tengo razones para creer que hay
Boaventura de Sousa Santos
Cuando en el poder, la izquierda no tiene tiempo para reflexionar
sobre las transformaciones que se producen en la sociedad y cuando lo hacen
siempre en respuesta a cualquier evento que altere el ejercicio de
Poder. La respuesta es siempre a la defensiva. Cuando no está en el poder, dividido internamente para definir quién será el líder en las próximas elecciones, y las reflexiones y análisis están vinculados a ese objetivo.

Esta falta de voluntad a la reflexión, siempre ha sido perniciosa, ahora es suicida.Por dos razones. El derecho tiene a su disposición todos los intelectuales orgánicos del capital financiero, las asociaciones empresariales, las instituciones multilaterales, los think tanks, los grupos de presión, y que proporcionará datos diarios e interpretaciones que no siempre carentes de rigor y siempre interpretan la realidad de la así como para llevar el agua a su molino. En cambio, la izquierda carece de instrumentos de reflexión abierto a los no miembros y, a nivel interno, la reflexión sigue la línea de las facciones estériles.

Circula en el mundo hoy en día una gran cantidad de información y análisis que
podría tener una importancia decisiva para repensar y volver a encontrar-a la izquierda tras el colapso de la democracia doble social y el socialismo. El desequilibrio entre la izquierda y la derecha en relación con el conocimiento estratégico del mundo es hoy mayor que nunca.

La segunda razón es que los nuevos movimientos y el activismo político de las causas que pertenecen históricamente a la izquierda se están realizando sin ninguna referencia a ellos (excepto, quizás, la tradición anarquista) y, a menudo en oposición a ellos. Esto no puede dejar de suscitar una reflexión profunda. Esta reflexión se está haciendo? Tengo razones para creer que la evidencia no es en los intentos de cooptación, enseñar, minimizar, ignorar la nueva militancia.

Yo ofrezco algunas reflexiones. El primero se refiere a la polarización social que está emergiendo de las enormes desigualdades sociales. Vivimos en un tiempo que tiene algunas similitudes con las revoluciones democráticas que asoló Europa en 1848. La polarización social era enorme porque la clase obrera (una clase tan jóvenes) dependía del trabajo para sobrevivir, pero (a diferencia de sus padres y abuelos) no funciona a él, dependía de quién dio o quitar a su antojo, el jefe, si ha funcionado los salarios eran tan bajos y el viaje tan largo que la salud perigava y la familia vivió siempre en el borde de la inanición si fueron despedidos, no tenía ningún apoyo, salvo alguna economía solidaria o recurrir a la delincuencia. No es sorprendente que estas revoluciones, las dos banderas de lucha han sido el derecho al trabajo y el derecho a la reducción de la jornada de trabajo. 150 años después, la situación no es exactamente lo mismo, pero las banderas siguen presentes.

Y tal vez lo que son hoy lo que eran hace 30 años. Las revoluciones eran
sangriento y fracasado, pero los gobiernos conservadores que el propio
seguida tuvo que hacer concesiones, no a la cuestión social
descambasse en una catástrofe. ¿A qué distancia estamos de la catástrofe?Mientras tanto, la movilización contra la escandalosa desigualdad social
(Al igual que en 1848) es tranquilo y tiene un fuerte sesgo moralista denunciante.

No asustar al sistema financiero democrática. ¿Quién puede garantizar que esto continúe? El derecho está preparado para la respuesta represiva a cualquier cambio que se convierte en mortal. ¿Cuáles son los planes de la izquierda? Volver a dividir como en el pasado, cada uno tomando la posición de la represión y otros, la lucha contra la represión?

La segunda línea de pensamiento también tiene mucho que ver con las revoluciones de 1848 y es cómo volver a conectar con las aspiraciones de la democracia y las decisiones de los ciudadanos. Las consignas de 1848, destacó el liberalismo y la democracia. El liberalismo significó el gobierno
Entidad estatal republicano por separado y la religión, la libertad de prensa;
la democracia significa el sufragio "universal" para los hombres. En este ámbito,
Mucho se ha logrado en los últimos 150 años. Sin embargo, los logros han sido cuestionados en los últimos 30 años y en los últimos tiempos de la
la democracia se parece más a una casa ocupada por un grupo cerrado
extraterrestres que decidan democráticamente sus propios intereses y
dictatorialmente los intereses de la inmensa mayoría. Un régimen mixto,
una democradura.

El movimiento de indignación y se niegan a ocupar la expropiación de la democracia y optar por tomar decisiones por consenso en sus reuniones. Están locos o son una muestra de las demandas que están surgiendo? La
Izquierda habrá pensado que si se sienten cómodos con las formas democráticas de alta intensidad (dentro de los partidos y la república), esta será la señal de que debería retirarse o ser refundar?

Boaventura de Sousa Santos es sociólogo y profesor de la Facultad de Ciencias Económicas de la Universidad de Coimbra (Portugal).

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