Sunday, April 06, 2014

HOLANDA PODERÁ PROVOCAR O COLAPSO DO EURO ?

HOLANDA PODERÁ PROVOCAR O COLAPSO DO EURO ? | TriploV Blog



HOLANDA PODERÁ PROVOCAR O COLAPSO DO EURO ?

by TriploV Blog
Por Matthew Lynn, El Economista
A bolha imobiliária estourou, o país está em recessão, o desemprego
sobe e a dívida dos consumidores é 250% do rendimento disponível. O
grande aliado da Alemanha na imposição da austeridade para todo o
continente começa a provar o amargo da sua própria receita.
[A Holanda começa a provar o amargo da austeridade que o seu ministro
das Finanças quer aplicar em toda a Europa.]
Que país da zona euro está mais endividado? Os gregos esbanjadores,
com as suas generosas pensões estatais? Os cipriotas e os seus bancos
repletos de dinheiro sujo russo? Os espanhóis tocados pela recessão ou
os irlandeses em falência? Pois curiosamente são os holandeses sóbrios
e responsáveis. A dívida dos consumidores nos Países Baixos atingiu
250% do rendimento disponível e é uma das mais altas do mundo. Em
comparação, a Espanha nunca superou os 125%.
A Holanda é um dos países mais endividados do mundo. Está mergulhada
na recessão e demonstra poucos sinais de estar a sair dela. A crise do
euro arrasta-se há três anos e até agora só tinha infetado os países
periféricos da moeda única. A Holanda, no entanto, é um membro central
tanto da UE quanto do euro. Se não puder sobreviver na zona euro,
estará tudo acabado.
O país sempre foi um dos mais prósperos e estáveis de Europa, além de
um dos maiores defensores da UE. Foi membro fundador da união e um dos
partidários mais entusiastas do lançamento da moeda única. Com uma
economia rica, orientada para as exportações e um grande número de
multinacionais de sucesso, supunha-se que tinha tudo a ganhar com a
criação da economia única que nasceria com a introdução satisfatória
do euro. Em vez disso, começou a interpretar um guião tristemente
conhecido. Está a estourar do mesmo modo que a Irlanda, a Grécia e
Portugal, salvo que o rastilho é um pouco mais longo.
Bolha imobiliária
Os juros baixos, que antes do mais respondem aos interesses da
economia alemã, e a existência de muito capital barato criaram uma
bolha imobiliária e a explosão da dívida. Desde o lançamento da moeda
única até o pico do mercado, o preço da habitação na Holanda duplicou,
convertendo-se num dos mercados mais sobreaquecidos do mundo. Agora
explodiu estrondosamente. Os preços da habitação caem com a mesma
velocidade que os da Flórida quando murchou o auge imobiliário
americano.
Atualmente, os preços estão 16,6% mais baixos do que estavam no ponto
mais alto da bolha de 2008, e a associação nacional de agentes
imobiliários prevê outra queda de 7% este ano. A não ser que tenha
comprado a sua casa no século passado, agora valerá menos do que pagou
e inclusive menos ainda do que pediu emprestado por ela.
Por tudo isso, os holandeses afundam-se num mar de dívidas. A dívida
dos lares está acima dos 250%, é maior ainda que a da Irlanda, e 2,5
vezes o nível da da Grécia. O governo já teve de resgatar um banco e,
com preços da moradia em queda contínua, o mais provável é que o sigam
muitos mais. Os bancos holandeses têm 650 mil milhões de euros
pendentes num sector imobiliário que perde valor a toda a velocidade.
Se há um facto demonstrado sobre os mercados financeiros é que quando
os mercados imobiliários se afundam, o sistema financeiro não se faz
esperar.
Profunda recessão
As agências de rating (que não costumam ser as primeiras a estar a par
dos últimos acontecimentos) já se começam a dar conta. Em fevereiro, a
Fitch rebaixou a qualificação estável da dívida holandesa, que
continua com o seu triplo A, ainda que só por um fio. A agência culpou
a queda dos preços da moradia, o aumento da dívida estatal e a
estabilidade do sistema bancário (a mesma mistura tóxica de outros
países da eurozona afetados pela crise). A economia afundou-se na
recessão. O desemprego aumenta e atinge máximos de há duas décadas. O
total de desempregados duplicou em apenas dois anos, e em março a taxa
de desemprego passou de 7,7% para 8,1% (uma taxa de aumento ainda mais
rápida que a do Chipre). O FMI prevê que a economia vai encolher 0,5%
em 2013, mas os prognósticos têm o mau costume de ser otimistas. O
governo não cumpre os seus défices orçamentais, apesar de ter imposto
medidas severas de austeridade em outubro. Como outros países da
eurozona, a Holanda parece encerrada num círculo vicioso de desemprego
em aumento e rendimentos fiscais em queda, o que conduz a ainda mais
austeridade e a mais cortes e perda de emprego. Quando um país entra
nesse comboio, custa muito a sair dele (sobretudo dentro das
fronteiras do euro). Até agora, a Holanda tinha sido o grande aliado
da Alemanha na imposição da austeridade por todo o continente, como
resposta aos problemas da moeda.
Agora que a recessão se agrava, o apoio holandês a uma receita sem fim
de cortes e recessão (e inclusive ao euro) começará a esfumar-se. Os
colapsos da zona euro ocorreram sempre na periferia da divisa. Eram
países marginais e os seus problemas eram apresentados como acidentes,
não como prova das falhas sistémicas da forma como a moeda foi
estruturada. Os gregos gastavam demasiado. Os irlandeses deixaram que
o seu mercado imobiliário se descontrolasse. Os italianos sempre
tiveram demasiada dívida. Para os holandeses não há nenhuma desculpa:
eles obedeceram a todas as regras.
Desde o início ficou claro que a crise do euro chegaria à sua fase
terminal quando atingisse o centro. Muitos analistas supunham que
seria a França e, ainda que França não esteja exatamente isenta de
problemas (o desemprego cresce e o governo faz o que pode, retirando
competitividade à economia), não deixa de continuar a ser um país
rico. As suas dívidas serão altas mas não estão fora de controlo nem
começaram a ameaçar a estabilidade do sistema bancário. A Holanda está
a chegar a esse ponto. Talvez se tenha de esperar um ano mais, talvez
dois, mas a queda ganha ritmo e o sistema financeiro perde
estabilidade a cada dia. A Holanda será o primeiro país central a
estourar e isso significará demasiada crise para o euro.

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